Faleceu Alberto José Vieira, carinhosamente conhecido como Bebeto. Muitos se lembrarão dele como vereador, o que foi um feito importante em sua vida e um reconhecimento da população pela sua contribuição e valor para este município. No entanto, gostaria de ressaltar aqui o que considero o maior legado de Bebeto: sua profissão de ferreiro. Para alguns, esse título pode soar como uma diminuição social, mas durante o tempo em que Bebeto atuou como ferreiro em Fátima do Sul, ele foi um motor impulsionador do desenvolvimento rural e industrial da região. Todo o movimento agrícola e industrial da época necessitava de seus serviços.
Quando cheguei a Fátima do Sul em 1979, Bebeto já era uma figura consolidada. Embora houvesse ferragens prontas disponíveis, marcenarias e fábricas de carrocerias de caminhões e caminhonetes ainda recorriam aos serviços dele. Se você tiver a chance, pare ao lado de um caminhão com carroceria de madeira e observe a quantidade de ferro presente, incluindo grampos, chapas, dobradiças e parafusos – isso mesmo, ele até fabricava os próprios parafusos na época. Além disso, havia ferragens para arreios, arados e inúmeras ferramentas para as serrarias. Imagine um tempo em que nossa população era maior e havia muito mais trabalhadores nas roças, onde a maior parte do serviço era manual. Os serviços de ferreiro eram imprescindíveis para o desenvolvimento do município.
Lembro-me de visitar sua oficina/ferraria e vê-lo diante do calor de uma forja, martelando o ferro quente em uma enorme bigorna com uma marreta pesadíssima, sempre simpático e atencioso. Uma vez, em particular, me recordo bem – foi o que me levou a escrever sobre esse cidadão tão ilustre. Eu era apenas um garotinho (um pouco gordinho) em uma bicicleta Berlineta Caloi (a Monark tinha a Monareta). Eu fui até o antigo Mercado Panelão para comprar um vinho para meu avô Aristeu. Ao retornar e tentar subir a calçada para encurtar o caminho, o quadro da bicicleta quebrou e se separou. Eu a ergui quase no colo e a arrastei até a oficina, perguntando ao Bebeto quanto custaria soldar o quadro. Ele deu uma olhada no estrago e informou o valor. Eu fiquei em silêncio, olhando para a bicicleta por alguns instantes e, então, fiz o que pude naquele momento: comecei a chorar, kkkkkkk. Felizmente, o Joaquim da serraria estava lá na oficina e intercedeu por mim, dizendo que me conhecia e que eu era um bom menino educado e tal. Então, Bebeto riu e disse que, é claro, ele iria soldar; estava apenas me ensinando a ter cuidado ao andar pelas ruas. Até a última vez que vi o Joaquim, ele ainda se lembrava disso e me dizia: “É Cido (meu apelido de família), quem não chora não mama, rsrsrs”.
Assim, quero deixar aqui esta homenagem a esse companheiro que se despede da cidade de Fátima do Sul, deixando um legado como cidadão e vereador, mas também um grande legado como ferreiro. Descanse em paz, amigo. Somos gratos a Deus por sua vida e esperamos que você encontre misericórdia nos braços do Pai.
Agradeço a Deus por tê-lo conhecido e usufruído de sua amizade. Que esses votos de sinceros sentimentos possam alcançar e confortar a todos os familiares de Bebeto neste momento de perda. Que Deus traga paz e consolo aos corações enlutados.
Sidney Dias dos Santos